Sobre as Festas da Agonia - ENSAIOS V

de: Alberto Antunes de ABREU

   
           
     
Prefácio
 

Uma colectânea de ensaios é, em grande parte, o balanço duma vida, porque aquilo que se escreve e o modo como se o faz reflectem necessariamente a própria história pessoal, já que, ao longo duma vida de investigação e escrita, se progride, aumentam os conhecimentos, se ganha maturidade para a elaboração de análises e sínteses, se afina a  metodologia e se refina a epistemologia, quando não mesmo as posições ontológicas.


Tenho formação de historiador. A análise dos factos há-de enfermar, por isso, dos pré-conceitos inerentes. Mas sempre procurei não me deixar cair naquilo que Séneca tanto receava: “hominem unius libri”. Nem dum livro, nem duma só disciplina, e muito menos duma “cartilha”. As análises que aqui se recolhem, realizadas ao longo de um pouco mais de 20 anos, acusam pendores ideossincráticos algo diversificados, mas todos com a predominância duma visão historiográfica anti-historicista ( de combate ao historicism tão acertadamente denunciado por Karl Popper). E, além da História, outras leituras servem de urdidura àquilo que escrevo ( e que só às vezes vou descobrindo ao reler-me), particularmente a sugestão clássica, seguindo o magistério de Manuel Antunes. Assim, junta-se o imperativo metodológico de citar as fontes ,com rigor e na língua original o gosto de ler Hesíodo, Ovídeo, Cícero … e Tácito. (Haverá alguém que tenha dominado com tanta perfeição a linguagem como um homem que em três palavras escreve coisas que preenchem todo um capítulo na escrita dos outros autores? Não verificamos ainda hoje que “ prospera omnes sibi uindicant, aduersa uni imputantur[1]?) .


Tenho, portanto que me penitenciar duma certa concisão de linguagem, que ao rever dos textos vou minorando. Assim como do insistente enriquecimento das minhas análise4s com o pensamento antigo, após a leitura – tardia, embora – de Eudoro de Sousa.


Porque os textos, os meus textos, são tão vivos e dependentes de mim como um feto de sua mãe. Enquanto os tenho comigo, vou-os emendando, rectificando, engrossando com informações colhidas ao sabor das leituras. Destes textos tive a preocupação de denunciar a primeira versão. Mas de alguns deles esta é já a terceira versão pública. Faço-o com a singeleza de quem sabe que a verdade é um transcendental e de que persegui-la é dever de todos.


Outro aspecto que devo denunciar neste pródromo à leitura da recolha efectuada é que estes textos são ensaios, no sentido sergiano e britânico do termo ( leia-se a propósito o notável opúsculo de Sílvio  Lima): não visam uma recolha sistemática da bibliografia, nem esgotar os temas, nem defender teses:: tão só (singelamente, humildemente) apontar sugestões de análise e/ou de síntese interpretativa. A maior parte deles foram também escritos ad hoc,ao sabor de pedidos de amigos necessitados dum texto para compor as suas publicações. (…)


Procurei arrumar os textos de modo sistemático, com o que subverti a sequência diacrónica do meu pensamento, mas também suponho que ninguém deve estar interessado nele. O que procurei foi que, com estes ensaios, fossem lançadas novas hipóteses de interpretação, factos e documentos novos, e contribuir para enriquecer os outros dando-lhes um pouco de mim. E por isso só escolhi alguns e os arrumei por temas. (…)


Viana do Castelo, 2006-07-07
Alberto A. Abreu








[1] E lá está. Às vezes esqueço-me que já não se ensina Latim nas escolas. Mas passo a traduzir: “ do bem todos se gabam, mas a um só responsabilizam pelos males”. E o que não se escreveria a este propósito, acerca da sorte das armas (este inciso é da vida de Agrícola), da política … das artes, do futebol!


 

Badanas
 
Contra capa
 

 

 
 
     
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