na praia Varela
São quase dez da manhã. Um enorme sol nos aquece e o mar banha, num vai-vém sereno, as negras areias da praia Varela. Da floresta ao lado, vêm a mim os ralos e os grilos, numa sinfonia estranha de harmónicos trilos. Mais incerto, no meu interior deserto, um oceano de sons flui no voo fogoso de aves exóticas. E um imenso cheiro de África me possui, inebriante e ameno, como um vinho generoso
Dois katchu-kaleron, num erótico bailado de fogo, ensaiam um ritual solidário e das esguias palmeiras pendem os ninhos em cachos de intenso cio. E uns-alguns, ensimesmados na fome, passam, lá fora, na outra margem de mim, e na indecisa magreza do nome, arrastam a impossibilidade da Hora, amarga e sem fim.
há tão lindas mulheres em Cacheu!
Há tão lindas mulheres em Cacheu! São manjacas, felupes e balantas e tantas outras-tantas!
Passeiam, sem limites, os ventres e os seios, semi-desnudas, e gingam as coxas num sorriso de apetites.
Bom dia, zé!
(Meu Deus!)
Bom dia!
é quase noite
Nos intensos sons da tarde perturbam-me longínquos afectos. Que faço em África? Que construo? Construo?!
Como me desacerta tudo o que faço. Passo a passo caminho um caminho de dúvidas. Sinto-me perdido. Aguardo uma qualquer porta aberta que me permita sair desta necessidade de arcar tarefas impossíveis.
Mas os olhos das crianças não me deixam. Mas os omi garandis de todas as moransas erguem-me as mãos.
E eu que não sou Deus! E eu árido de respostas! E eu vazio de verdades! E eu que apenas sou África nos entretantos das minhas comodidades!
É quase noite nos intensos sons da tarde onde arde a dislalia dos meus afectos.
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