SEI-ME
Sei-me
no recordar dos tempos que foram
no reler das históprias conjubtas
no reamar das horas sozinhas.
Sei-me
como quem se lê
nas palavras devassadas
do onanismo colectivo.
Sei-me no fecundar das ideias Todas
no orgasmo das imagens tutelares
na cópula infecunda das minhas dissertações.
Sei-me.
(1987)
SE EU PUDESSE
Se eu pudesse
mandava quebrar todos os relógios
e decretava que o tempo parasse
e os homens fossem
sem que tivessem de ser
no impossível instante.
Se eu pudesse
proibia as margens
anulava os condicionais
e os ses e os mas e os todavias
e tudo
e mandava que castradores não castrassem
e os policiais não policiassem.
Se eu pudesse
havia de não Poder
e de não Proibir
e de não Decretar
e de não Mandar.
Se eu pudesse
havia só de Viver.
(1988)
OS DEUSES NOS DERAM UM PERCURSO
Os deuses nos deram, um percurso,
este,
que, sozinhos ou de mãos dadas
( se possível de mãos dadas),
importa percorrer.
Os deuses nos deram o veneno de um percurso,
este,
que disseram livre,
entre margens e condições.
Assim nos contentaram
e se contentaram de haverem criado
imagens e semelhanças das suas sombras prescritas.
Os deuses nos deram, um percurso,
este,
com a proscrita mensagem
de, por ele, chegarmos a leles.
E se nós os buscamos
quando nos buscamos!
Caminhemos, pois, se esse é o fado,
mas tão só nós, inteiros,
nunca cordeiros de sacrifício.
Cumpramos o percurso que tem de cumprir-se,
fitos os olhos na eterna fluidez do momento!
- Não nos deram o futuro e já perdemos o passado.
Só o agora vale, o já.
Tudo o resto é devir.
(1994)