Afectos
Afectos que emolduram afectos. Ninguém mais os vê.
Só nós que estamos aqui nos afectos. Nós somos os afectos.
Estamos todos neste chão de terra, de rio, de mar,
onde o rasto das vozes se eterniza. E se escuta.
Mais ninguém o escuta. Só nós que somos o rasto.
Rasto lampejante. Imortal.
Estamos todos aqui.
Mesmo os que já não estão.
Conhecer-te
Apetece-me parar nos sítios
que me olham
Que me entendem
Olhar outros céus
Entrar noutros mundos
Sugar a raiz das coisas
Entrar pelas entranhas da natureza
Não sei se quero que vás comigo
Sei que me apetece conhecer-te
Ter-te
Respirar-te
Inalar-te
Esvaziar-me
E…
Voltar a ter-te
A respirar-te
A inalar-te
Voltar a encher-me.
Retrato
Não tenho uma raça
Tenho todas as etnias
Não tenho idade
Tenho todas as idades
Não sou de ninguém
Sou de todo o mundo
Tenho princípios, tenho amor
Tenho causas, tenho ideais
Tenho sonhos
Não tenho terra
Tenho origens, tenho memórias
Tenho Universos, tenho vidas
Sou gente. Animal. Coisa pensante
Sou riso e pranto. Sou mãe
Sou mulher
Sou amante.
Maresia de ti
Não te encontro em lado algum meu amor
Apenas dentro de mim como barco ancorado
Num pedaço de mar sem maré
Maré-vaza. Maresia de ti
Corpo saciado lambido por mim dentro de mim
Não te encontro em lado algum meu amor
Apenas nos sítios perto de tudo onde o nada aflora
vigoroso
Prende-se-me o olhar nesse mar cheio de viço
na vontade de te ter.