Vão da Ausência (No)

de: Adelaide GRAÇA

   
           
     
Excertos

NO VÃO DA AUSÊNCIA



Não basta o frio do Inverno
para as fissuras mais sangrarem.
Mas basta um frio que vem de nós
para elas mais doerem.
Talvez seja o sombrio do tempo
E este frio despido
que mais intensamente
traz a tua ausência.
A presença física instala-se
no ar que se respira, em jeitos
e carícias, em dizeres sufocados
nas tantas vezes que nos cruzamos
nos corredores e nas escadas
de uma vida
que já não é pequena.
Depois … amamo-nos.
Amamo-nos como selvagens,
rimo-nos com o riso dos animais,
abraçamo-nos no universo que nos cuida.
Somos donos de um mundo
num tempo que é sombrio.


E não basta o frio do Inverno
nem o frio que vem de nós
para as fissuras mais doerem!
Basta que a tua presença se instale
… no vão da ausência.


 


ROSAS DO AMOR



Encontrei-as nos colares e pulseiras
dependuradas nas tendas ocasionais.
Encontrei-as entremeadas
com outras cores e outros colares
nas tendas da Ilha mágica de La Toja.
Dize
m que quando se chora
as rosas do amor mudam de cor
mas se as lágrimas não forem de amor
não podem as rosas mudar de cor!


Encontrei-as dependuradas
e entremeadas com outras, muitas outras
em colares e pulseiras de várias cores
escorrendo lágrimas…
rosas do amor.


 


ÉS TU



Corpo de homem
em sorriso de menino.
És tu.


Calo o teu nome na quietude
dos meus voos.
Chamo-te na maciez dos momentos
onde u tempo se reproduz.
Guardo o sussurro das palavras
na íris marejada.


Um dia…
quando o tempo fizer o gesto do momento
soltarei o teu nome no ranger do chão
e as palavras terão o paladar do desejo
no sussurro dos sentidos.
Sou eu.
Em teu corpo de homem.
És tu.
Em meu corpo de mulher.
Tu e eu:
o mesmo corpo;
o mesmo sorriso.


 


DIGO-TE, PORQUE TE AMO



(…)


Mas o belo, o apetecível está no mágico segredo das coisas e é este secreto poder, que mais parece dos deuses, que nos aproxima das montanhas e do enamoramento, sem nada pedir em troca. A chave dos segredos está aqui e tu, meu amigo, meu amor, sabe-lo tão bem quanto eu. Tens a chave, tens a incerteza. É hora de ires à descoberta do caminho.


Ah! Leva também uma foice para desbastares o emaranhado das silvas e quando sentires o sol e a lua pousarem em ti os primeiros acordes, sorri. Grita o sorriso.


E, antes que o papel deixe de ser pensante e audível, antes que partas para o conhecimento, digo-te:


- Sê feliz. Sem te preocupares com a duração da caminhada.


Digo-te, porque te amo.

 
 
     
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