Aspectos da Cultura Castreja no Alto Minho

de: Lourenço ALVES

   
           
     
Excertos

“OS CASTROS


 


Como já se disse, a cultura castreja tem como base o habitat castrejo com todas as implicações de ordem social, económica, técnica, política e religiosa. O que, porém, aflora à primeira vista, são os castros.


Os castros são mais numerosos à beira-mar e nas margens dos rios, talvez porque os seus habitantes, ao lado de uma agricultura rudimentar e da pastorícia, da recolha de peixe e de marisco, da guerrilha e do banditismo, pretendessem controlar estas vias de penetração para as fontes do metal, tão apreciado naquela época.


Quanto à localização temos, portanto, dois tipos: os situados à beira-mar e junto aos rios e os do interior. Os primeiros são todos muito semelhantes na sua estrutura, estando, geralmente, assentes num cabo ou numa pequena península e tendo assegurada a defesa por três lados. O quarto lado, aquele que o liga à terra, era defendido por um fosso cavado na terra ou na rocha.


Os castros apresentam planta circular, ovalada ou elíptica e nunca rectangular. A sua defesa é garantida por muralhas, fossos ou  taludes. Adaptam-se, perfeitamente, à configuração do terreno, aproveitando, não raras vezes, as defesas naturais: rampas, penedias, socalcos, etc.


Geralmente, os castros situam-se à beira de um regato ou de um rio que, além de fornecerem água, servem de defesa natural.


Para se defenderem dos ventos do norte e aproveitarem ao máximo a luz solar, o eixo principal dos castros está orientado na direcção norte/sul.


Os nossos castros, embora defendidos por muralhas, raras vezes dispensam os taludes naturais ou artificiais. Parece que os recintos amuralhados se foram estreitando ante a iminência de uma invasão, sobretudo, romana. Assim, os recintos mais apertados serão os mais recentes.


Se existem castros com certa extensão, há outros relativamente pequenos.


Dos mais pequenos, uns exibem restos de moradias ou pedras soltas, restos de cerâmica, de ferro, etc., sinal evidente de que foram ocupados de forma permanente; outros, porém, situados em sítios mais altos, quase inacessíveis, não revelam quaisquer vestígios de povoamento. Que se terá passado com estes recintos castrejos? Parece que teriam sido locais de defesa, em momentos de ataque inimigo, onde os habitantes dos povoados circunvizinhos se refugiariam.


Um dos problemas que mais preocupações tem causado aos arqueólogos é, sem dúvida, a perduração dos castros.


Quando teriam começado e quando teriam terminado?


Alguns destes castros formaram-se e desenvolveram-se com a metalurgia do ferro; outros já vinham de tempos anteriores.


«O fundo cultural dos castros, escreve A. A. Mendes Correia, tem por características a rudeza, a simplicidade primitiva, a sobrevivência de formas arcaicas. Neles abunda, por exemplo, a cerâmica de fabrico indígena, de pasta grosseira, mal cozida, com motivos incisos simples e primitivos (...), de muitos espécimes de cerâmica eneolítica do País. Os castros portugueses serão, assim, num grande número de casos, não só originariamente pré-romanos, mas até pré-célticos.»


Mas se todos os arqueólogos concordam com a anterioridade de muitos castros em relação à metalurgia do ferro, nem todos estão de acordo quanto à sua sobrevivência após a conquista romana.


Estrabão admite que, ante a invasão dos romanos, os povos castrejos tivessem abandonado os povoados, rumo aos vales, entrando os castros em franca decadência.


Esta afirmação de Estrabão não se pode aceitar de forma absoluta.


Não há dúvida que os romanos eram duros para com os povos revoltosos. Mas eram brandos para com os submissos. E se os galaicos, no primeiro embate, se portaram com galhardia, resistindo até à morte, logo se submeteram, acabando por aceitar a civilização romana.


Parece que os castros mais pequenos entraram em franca decadência após a invasão dos romanos, ao passo que os de maior dimensão se revitalizaram, prevalecendo no Baixo Império e, até à invasão dos árabes, nalguns casos, como Santa Luzia.”

 
 
     
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