Reflexões sobre a Vida

de: Lourenço ALVES

   
           
     
Excertos
"MAIS GRAVURAS RUPESTRES" O P.e Artur Coutinho, quando paroquiava as freguesias das Argas, descobriu, nas suas deambulações pela serra, uns sinais gravados num penedo. comunicou o facto à Secção de História e Arqueologia do Centro de Estudos Regionais de Viana do Castelo que, imediatamente se pôs em campo para fazer o levantamento e a inventariação de tão valioso achado arqueológico. Numa tarde soalheira de Fevereiro, o autor destas linhas, acompanhado do P.e Coutinho, lá foi até à Serra d'Arga. Tomámos a estrada de Dém e, ao chegar à entrada da freguesia, arrumámos o carro e metemos pés ao caminho, serra acima, por entre penedos desordenados e tojos de picos ásperos, à mistura com restos de troncos de árvores consumidas pelos incêndios da época estival. Entrámos, nas paragens frequentes a que nos forçava a ladeira íngreme, olhávamos, estupefactos, a paisagem agreste que se entreabria e se desdobrava à nossa frente, numa visão do belo-horrível. Atrás de nós ficava o grande vale onde repousava, mansa e despreocupada, a freguesia de Dém. A nossa curiosidade era insaciável e, por isso, espiolhávamos todos os penedos em busca de sinais do homem pré-histórico. Aquilo que não passava de fruto da erosão, parecia-nos uma obra humana e só depois de um exame minucioso, tal era a semelhança, é que nos convencíamos do logro em que caíramos. Um pouco acima do meio da encosta, deparámos com um penedo que, visto dum certo ângulo, parece um láparo escondido. É a "igreja dos mouros", o penedo misterioso do qual se diz possuir, lá dentro, dois caixões, um de oiro, outro de peste. Quem o abrir fica sujeito à antinomia do destino - a vida feliz, ou a morte trágica. É lá, segundo os testemunhos de uma velhinha, que "os mouros diziam missa". Alguém que, no seu tempo de menina, fosse para junto dele com o gado, devia lembrar-se do seu carácter sagrado, não lhe tocando para não o profanar. O local onde se encontra o penedo é conhecido por Costa do Carvalho. Depois de contornarmos o rochedo na direcção norte-sul, subimos com certo custo. Foi então que pudemos ver as gravuras que passamos a descrever. O penedo, de granito granuloso e cor esbranquiçada, é de configuração redonda. A partir da base, aumenta de volume, assumindo a meio uma forma bojuda que se afusa, conforme se aproxima da coroa. É na vertente da coroa, voltada a poente, que se encontram as gravuras. Uma dificuldade se nos deparou desde logo: como fotografar, em posição direita, esses petróglifos? E à nossa mente aflorou esta pergunta: e como poderia o artista gravar estes sinais, sem ter qualquer suporte? Realmente, as figuras estão localizadas numa zona do penedo que se pode considerar inacessível. O penedo mede na parte superior 6,80 m no sentido nascente-poente e 5 m, no sentido norte-sul. A um metro e meio da base, precisamente onde começa o bojo, tem um perímetro de 25 m. Há, pelo menos, duas séries de insculturas. Digo isto, porque, embora muito delidas pela erosão, divisavam-se outros conjuntos difíceis de identificar. Na parte mais baixa da coroa, deparam-se duas cruzes que nos parecem relativamente recentes. O conjunto mais significativo que já localizámos, compõe-se de vários sinais: um antropomorfo que deve simbolizar o pastor, dois sinais que nos parecem paletas, uma suástica, e vários podomorfos formados por covinhas, ligadas por um sulco muito ténue. SANFINS DE FRIESTAS Numa passagem por esta freguesia de Valença, contactámos várias pessoas que nos informaram de algumas gravuras em penedos da localidade, por sinal, abundantes e avantajados. Como o tempo não sobejava, ficou para outra vez a sua identificaação. Disseram que na extrema entre esta freguesia e a de Verdoejo, há esculpida, num penedo, a cabeça de um carneiro, para assinalar os limites. Numa torre de penedos, chamada Cortelhos, no lugar de Quebrada, há sinais gravados que o povo diz serem a cabeça e as pegadas de Nossa Senhora. Também no Castelo de Furna, nos disseram haver uma pia onde a água nunca seca. Era ali que a rainha vinha beber."
 
 
     
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