Faianças de Prado (e não de Monte Sinai) (As)

de: António Matos REIS

   
           
     
Excertos

"De entre as faianças executadas sob a inspiração das porcelanas chinesas, mas dotadas de um cariz muito próprio, conta-se um conjunto de peças que apresentam entre si uma grande afinidade, e, depois de José Queirós, são geralmente atribuídas às oficinas situadas na freguesia de SAnta CAtarina do MOnte Sinai, em Lisboa, e simplificadamente designadas, desde então, como "do Monte Sinai". Existiram aí diversas olarias, como atesta a documentação levantada por aquele ceramólogo, que as contrapõe àquelas que na sua época se sabia terem existido na parte oriental da cidade, na área da Senhora do Monte. Depois de ter descoberto a sua existência, José Queirós atribuiu-lhe o fabrico de um tipo de faianças a que acabamos de nos referir, baseado apenas na alegada semelhança da decoração de alguns azulejos existentes na área de Lisboa ocidental.


Nem todos os autores aceitaram, porém, essa atribuição e entre elesconta-se o Dr. Luís Augusto de Oliveira, que refutou as conclusões infundadas do estudioso olissiponense. Com efeito, José Queirós partiu simplesmente da verificação da existência de olarias na zona ocidental de Lisboa e de algumas parecenças formais dos motivos decorativos de algumas dessas peças com os dos azulejos existentes em edifícios na mesma zona de Lisboa (cuja oficina de procedência, no entanto, José Queirós desconhecia) para concluir que esse conjunto de peças se devia a uma oficina na área do Monte Sinai.


Já em 1916 Luís Augusto de Oliveira contestava a atribuição proposta por José Queirós, baseado não só na pouca consistência dos seus argumentos mas  também na existência de fortes razões para se manter a tradição segundo a qual se produziam faianças na área de Prado e se atribuíam a essa origem as peçs que apresentavam determinadas características.


Em primeiro lugar, Luís Augusto de Oliveira cita uma carta de 17 de Outubro de 1778, segundo a qual se fabricava azulejo na vila (aliás, no concelho) de Prado. Considerando que a técnica do azulejo, no que se refere à pasta e ao revestimento, era fundamentalmente a mesma, é lógico achar-se natural que também aí se produzissem vasilhas de faiança.


Outras razões a favor da produção dessas faianças em Prado é o facto de existirem peças do século XVII ou primeira metade do século XVIII marcadas com um P. no reverso, citando-se duas do Museu de Viana, uma da colecção então pertencente a António Arroyo e outra da colecção do Conde do Ameal.


Acresce o facto de que essas peças e a grande maioria se não a totalidade das peças com idêntico estilo de decoração foram encontradas no norte do país.


Os dois pratos marcados existentes no Museu de Viana foram mesmo adquiridos pelo Dr. Luís Augusto de Oliveira em casa de uma antiga família de Prado, que os possuía desde tempos remotos e atribuía às olarias das redondezas. Era antiga a tradição em Braga relativa à produção da louça braca, isto é, de faianças, em Prado. (...)"


 

 
 
     
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