Viana, a Cidade através do Tempo

de: António Matos REIS

   
           
     
Excertos

1- A IMPLANTAÇÃO DA VILA


Ao contrário do que sucedeu com a maioria das povoações portuguesas, Viana resultou não de uma concentração espontânea e gradual de moradores, que de ordinário se faz de uma forma casual e desordenada, mas de uma expressa vontade política, incarnada no rei D. Afonso III que, no foral assinado em 1258.06.18 e depois, com ligeiras alterações, reoutorgado em 1262, decidiu criar um novo município, cuja cabeça colocava num aglomerado (numa vila) no lugar de Átrio, a que atribuía a nova designação de Viana.
De acordo com as Inquirições feitas na mesma data, Átrio correspondia a uma das três áreas em que se dividia a paróquia do mesmo nome e aí se localizava a sede paroquial. As outras duas eram as «vilas» de Castro e Figueiredo.
Átrio constituía já um pequeno aglomerado habitacional, que tinha como componentes um reguengo agrícola e um ancoradouro, onde aportavam as embarcações. O movimento deste cais devia ser significativo, porque, em caso de guerra, tinha já uma certa expressão estratégica. Os moradores, diz-se, nessa contingência, «Vam  sobre Gallecia um corpore Regis in quaes navios ouverem».
Esta circunstância proporcionou o desenvolvimento deste local e, em conjunto com a sua posição central, contribuiu para que aqui se construísse a igreja e se localizasse a sede da paróquia.
Na outra margem, situava-se Nossa Senhora das Areias, que, na mesma época, era, nas proximidades, ainda que não muito desenvolvido, o mais importante aglomerado da margem sul da foz do Lima. Também aí se desenvolveu uma actividade marinheira interessante, pois já na mesma data «am por foro que el Rey teyver y navios am d'ir de Douro ataes Minio». É entre Nossa Senhora das Areias e Átrio que se faz então a travessia do Lima.
Estes factos ajudam-nos a compreender as razões que levaram a escolher o local para implantação de Viana: a proximidade da foz, e, ao mesmo tempo, a passagem do Lima.
Perguntar-se-ia então porque é que a povoação resultante do foral afonsino foi implantada mais para juzante do aglomerado de Átrio, de tal modo que deixou inclusivamente de fora a mais antiga igreja.
A razão está de facto na sua localização privilegiada, sob o ponto de vista funcional, estratégico e urbano: situava-se numa posição que reunia os requisitos necessários para um bom ancoradouro (águas com profundidade bastante, logo seguidas por um chão firme e seguro); desde o ribeiro do Ameal (e mesmo desde antes) até à foz, era esse o morro mais avançado sobre o rio, dispondo das melhores condições para a organização da futura defesa da povoação e do próprio ancoradouro; a descida em declive era uma garantia de salubridade, possibilitando uma boa exposição ao sol e um fácil escoamento das águas.
Foi neste local que D. Afonso III pretendeu concentrar toda a população da paróquia de S. Salvador, dispersa pelas vilas de Crasto, Figueiredo e Átrio, dando-lhe o nome de Viana e transformando-a em sede de um novo concelho, organizado segundo os moldes do chamado «foral de Salamanca»."

 
 
     
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