“Jornada 12 – Dezembro 20, segunda-feira, contadas ao todo cinco léguas, chagámos à ameníssima cidade de Génova (a Bela), e assim, ultrapassada a Lombardia, vimos um espaço que se estendia por sete a oito léguas, entre montes abruptos, penedias e rochedos, tão abundante em produção de castanhas, que é o pão comum aos homens e aos gados, nem a ouro alimento estão habituados, quer os moradores, quer os operários, senão ao feito com estas castanhas, rapidamente cozidas e esmagadas, nem as acompanhavam com algum pão ou vinho, mas alimentavam-se com esta comida e do próximo rio traziam a água para matar a sedeimos nesta cidade um prato em que o Senhor comeu o cordeiro na Última Ceia, que se guarda na Igreja Maior com doze chaves, guardadas pelos doze primazes da cidade. Este prato é de valor inestimável, mesmo quanto à matéria, porque é todo de esmeralda puríssima, e é fama que esse vaso estivera entre as riquezas de Salomão, e pertencia quando Jesus fez a Última Ceia, àquele homem rico de quem era o Cenáculo: não é impossível que o Senhor comesse em tão preciosa bandeja o Cordeiro segundo a Lei assado nessa noite.
Cheguei a Génova na vigília de S. Tomé Apóstolo, e hospedei-me com toda a comodidade no nosso Convento de Santa Maria do Castelo, com todos os meus familiares, e permaneci aí até ao Natal do Senhor e primeiro dia da oitava.
No dia de S. Estêvão, 26 de Dezembro de 1563, embarcámos numa nave, conjuntamente com o Embaixador Português, D. Fernando de Mascarenhas, e o Bispo de Leiria, D. Frei Gaspar do Casal, da Ordem de Santo Agostinho; durante todos os dias 26, 27, 28 e 29 de Dezembro fizemos o mesmo caminho, que é de trinta e duas léguas, entre Génova e Nice, nos primeiros três dias não sem perigo da vida e tédio, e no último, ou quarto dia, deixada a nave, vimo-nos forçados a prosseguir viagem por terra. Assim.”
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