Colecção de Azulejos do Museu Municipal de (A)

de: António Matos REIS

   
           
     
Excertos
"2- Azulejos hispano-árabes

Portugal é o país onde no decorrer dos séculos mais importância se deu ao azulejo, sendo também aquele que possui maior relevo e variedade de exemplares, de todas as épocas: alicatados, de corda seca, de «cuenca», de tapete, de figura avulsa, polícromos, monócromos, simplesmente decorativos ou historiados. No entanto, as suas origens encontram-se fora do território português.
2.1- O alicatado, primeiro antepassado próximo dos azulejos, era um mosaico organizado com peças de várias cores e formas geométricas, cuja associação podia gerar um número infinito de desenhos: cortavam-se placas esmaltadas em fragmentos com várias formas - aliceres ou tacelos - e com eles se faziam composições policromadas, segundo um processo que exigia grande perícia e delicadeza, tornando-se moroso e caro. Serão de finais do século XIII os mais antigos exemplares em que se adopta esta técnica, também utilizada no séc. XIV e na maior parte do séc. XV. Durante muito tempo, produziram-se, especialmente na área de Valência, «alfardas» e «losetas», isto é, placas hexagonais destinadas à colocação em pavimentos.
2.2- A corda seca foi um processo mais simples, que se passou a utilizar no último quartel do séc. XV: os azulejos tomaram por base uma forma quadrada, sobre a qual, com uma matriz de madeira ou metal, se aplicava um desenho com composições geométricas (estrelas, laçarias, etc.) idênticas à dos alicatados, no qual os vários campos eram separados por espaços vazios, que se preenchiam com óleo de linhaça e manganés nele dissolvido, de modo a isolar e impedir a mistura das várias cores durante a sua aplicação ou durante a cozedura. desse sulco de delimitação entre as várias áreas derivou o nome com que se tornaram conhecidos os azulejos confeccionados segundo esta técnica: azulejos de corda seca.
2.3- Os azulejos de aresta, na época chamados t ambém azulejos de «labores», apareceram no último quartel do séc. XVI e utilizavam um processo mais avançado, em que o desenho se imprimia com o molde no barro ainda mole, criando espaços delimitados por arestas, mais altas, que tornavam seguro o isolamento das cores e davam amior rapidez à execução do trabalho. Daí veio o nome dado aos azulejos confeccionados desse modo, conforme se aludia ao facto de os campos a colorir ficarem mais baixos (em «cuenca») em relação à linha em relevo (aresta) que faz a separação. Inicialmente imitavam as formas geométricas dos azulejos de «corda seca», tal como estes se inspiravam nas do alicatado. No século XVI começaram a adoptar-se outros motivos, por influ~encia das mais artes decorativas, difundidos pelo Renascimento, recorrendo às figurações fitomórficas e a outras.

A diferença entre azulejos de «corda seca» e de «aresta» interessa mais no aspecto técnico do que no artístico, sendo basicamente importante para conhecer a evolução dos modos de fabrico. as primeiras e principais oficinas de produção destes azulejos situavam-se no sul de Espanha, em regiões que estiveram até mais tarde sob o domínio árabe - Granada, Valência, Málaga, Manises, Paterna, Sevilha. Daí, e em razão da decoração neles usual, que reproduz motivos muçulmanos, o chamaram-se azulejos hispano-árabes ou mudéjares. Sevilha foi o maior centro produtor de azulejos e o principal abastecedor do mercado português. Os motivos decorativos herdados da tradição muçulmana são fundamentalmente as laçarias a formar estrelas ou outras construções geométricas.
No distrito de Viana, havia azulejos mudéjares ou hispano-árabes, de meados do século XVI, na igreja de Santo António dos Frades, de Ponte de Lima, dos quais ainda restam alguns exemplares. Havia-os igualmente no antigo convento de S. Francisco do MOnte, possivelmente devido às obras executadas em 1584. Há vários espécimes no Museu Municipal de Viana do Castelo, cujo lugar de origem em geral se desconhece."
 
 
     
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