Do Gótico ao Manuelino no Alto Minho (Monumentos civis e militares)

de: Lourenço ALVES

   
           
     
Prefácio
 

“Este estudo faz parte dum trabalho de conjunto  - Do Gótico ao Manuelino no Alto Minho – cujas duas primeiras partes foram publicadas na revista Caminiana (IX e X volumes), tratando a primeira duma exposição de conhecimentos genéricos sobre estes dois estilos arquitectónicos e a segunda dos monumentos religiosos que nos foi possível identificar.


Agora, apresentamos uma série de monumentos civis e militares (castelos, torres fortificadas e palácios), numa perspectiva arqueológica, sem esquecer, evidentemente, aspectos históricos que podem ajudar a situar melhor no tempo a sua construção, as modificações por que passaram e as pessoas que os possuíram e lá viveram.


Pode-se dizer que este estudo não é original. L. Figueiredo da Guerra, numa visão mais global e frisando quase só aspectos históricos, já nos ofereceu uma panorâmica dos castelos e torres fortificadas do Alto Minho. Nos tempos mais recentes, Damião Peres frisou, além de aspectos históricos, a estrutura dos castelos desta região, numa perspectiva mais literária e de propaganda turística, do que de ordem arqueológica, omitindo, por não caberem no âmbito do seu estudo, as torres fortificadas e as casas brasonadas. Ultimamente, nos Cadernos Vianenses, o Eng. Guilherme Felgueiras ofereceu-nos uma resenha de «castelos, torres e solares acastelados do distrito de Viana», seguindo uma orientação geográfica e livresca, sem grandes preocupações de critério científico na sua inventariação.


Todos estes trabalhos, além doutros parcelares, que nos dispensamos de referenciar, não impedem a publicação de mais um, com objectivos específicos, numa perspectiva histórica e arqueológica, sem descurar referências pontuais que, embora sejam objecto doutros ramos da ciência, não deixam de imprimir maior interesse ao nosso estudo. Estão neste caso as notas genealógicas, etnográficas, diplomáticas, económicas, sociais, etc.


Este estudo contempla somente os castelos e palácios construídos no período que vai, sensivelmente, do século XIII ao século XVII e que na sua estrutura arquitectónica ou nos seus elementos decorativos acusem influências dos estilos gótico e manuelino. Doutros monumentos civis e militares medievais, apenas faremos um registo sumário.


 


Castelos medievais, enquadrados na gramática construtiva a que nos reportamos, há poucos, no Alto Minho, sobretudo na sua pureza original.


É que um castelo medieval, de tipo defensivo, cuja construção os nossos reis, desde a fundação da nacionalidade, recomendavam como um dever inadiável às populações contempladas com uma carta de foral, implicava uma estrutura arquitectónica bem definida pela função a que se destinava. Pode-se dizer que os castelos fronteiriços – e são quase todos os que existem no Alto Minho – deviam possuir, pelo menos, uma torre de menagem, com um recinto à sua volta, onde se erguiam as casas destinadas ao casteleiro, à guarnição e demais pessoal encarregado da sua defesa, cercado duma muralha espessa, coroada de merlões, que assumiam formas diversas conforme a época, e de ameias mais ou menos rasgadas. Por detrás deste parapeito, existia um corredor  - o adarve – interrompido nos cantos da muralha por guaritas, onde as vigias se poderiam acolher, quando o tempo não permitisse fazer a ronda ao ar livre, ou a noite sobreviesse.


Esta muralha estabelecia comunicação com o exterior, por meio de duas portas: a principal e outra secreta, chamada «porta da traição».


Com esta estrutura arquitectónica, mais ou menos completa, encontramos os castelos de Melgaço e de Lindoso. Os outros, como os de Viana, Caminha, Valença, Monção, Castro Laboreiro e Ponte de Lima, ou foram destruídos, deixando leves resquícios; ou foram mais tarde adaptados a fortalezas, quando se vulgarizou o uso de armas de fogo; ou desapareceram, pura e simplesmente, deixando apenas como última recordação a torre de menagem, desgarrada na paisagem, qual sentinela petrificada, como a de Lapela. O de Vila Nova de Cerveira, embora a muralha seja primitiva, falta-lhe a torre de menagem, se acaso um dia chegou a tê-la...


 


Como réplica a estas moles graníticas, que constituíam a última esperança de defesa, em caso de ataque inimigo, duma população que se anichava à sombra do castelo, ergueram os senhores laicos ou religiosos torres fortificadas, quase sempre na orla dos concelhos, já que muitos forais não permitiam a permanência de fidalgos dentro do termo.


Estas torres, mais vulgares no Minho e mais raras no centro e sul, constituíam um lugar de defesa nas rixas entre senhores feudais, ao mesmo tempo que proporcionavam uma habitação, se não cómoda, ao menos privilegiada, pela semelhança que tinham com as outras fortificações.


A sua estrutura era muito simples. Um cubo de granito com três ou quatro andares, comunicando entre si por meio de escadas interiores de pedra ou de madeira, reservando quase sempre o rés-do-chão para arrecadação e as partes superiores para habitação do senhor.


A porta principal era quase sempre à altura do segundo piso: uma porta estreita, arqueada, comunicando com o exterior por meio duma ponte levadiça, ligando a torre a um pátio que, mais tarde, se tornou comum ao solar que se construiu, quando a torre deixou de ter interesse, ou se tornou incómoda para o sistema de vida que então se usufruía. Apesar disso, ainda hoje, estas torres, incorporadas em belas e luxuosas habitações, são aproveitadas como refúgio nos momentos de reflexão ou de convívio íntimo.


A iluminação era feita através de seteiras com derrame interior, sendo a cobertura, à semelhança das torres de menagem, defendida por fiadas de merlões, de várias formas, ora colocados sobre cornijas salientes, ora rasando a verticalidade dos muros.


Algumas destas torres nunca chegaram a integrar-se na arquitectura dos solares que, a partir do século XVII, lhes foram anexados, para tornar mais cómoda a vida dos senhores. Estão neste caso a da Silva (S. Julião), para as bandas de Valença, que não se conforma com a pobreza duma casa agrícola que lhe adossaram. O mesmo se pode dizer das torres de Refojos de Lima e de Geraz de Lima. Já as de Aguiã e Giela, em Arcos de Valdevez, e as de Bertiandos e Curutelo, em Ponte de Lima, ou a de Nogueira, na Ponte da Barca, se deixaram absorver pelos solares que as envolvem, em perfeita harmonia de volumes e de formas arquitectónicas.


Algumas torres, como a de Vilar de Mouros, Cardielos, S. Gil de Perre, etc., não se revestem de grande importância, por já terem sido destruídas e delas não restar senão uma ténue memória. Não será difícil imaginá-las, pois na sua composição volumétrica deveriam ser semelhantes a tantas outras que, felizmente, ainda existem e das quais aqui deixamos memória.


Outras não serão aqui abordadas, de forma desenvolvida, pelo simples facto de terem sido tão modificadas na sua contextura que já perderam, quase por completo, a sua identidade.


Há casos sintomáticos que podem enganar o observador desprevenido, quer atribuindo a essas torres fortificadas a idade que não têm, quer situando-as num tempo e num espaço que não lhes pertence. Está neste caso uma torre na freguesia de Cuide de Vila Verde, no concelho de Ponte da Barca. O seu dono, comprando-a para os lados de Braga, transferiu-a para junto da sua casa de campo, nesta freguesia.


Estas torres foram, no decorrer do tempo, sofrendo as modificações que as circunstâncias exigiam, para as adaptar a mansões senhoriais.


 


Um outro tipo de construções fidalgas, enquadradas na mesma temática gótico-manuelina, são os palácios ou casas brasonadas.


Além das torres fortificadas, deveria haver outros tipos de mansões senhoriais nesta região do Alto Minho. Embora aqui não houvesse uma tradição senhorial antiga, de tipo laico, predominando mais os concelhos, as terras coutadas, sob a dependência de conventos e pequenos mosteiros, cuja vida em comum não se ajustava à construção de palácios, é possível que alguns homens «honrados» manifestassem a sua preponderância através de edifícios de maior dimensão. No entanto, só a partir de D. João I e mais ainda de D. Afonso V, em que se formou uma pequena classe senhorial que se tornou notável, quer nas lutas com Castela, quer nas aventuras do norte de África, se construíram palácios importantes que ainda existem.


Tanto o palácio de Giela, como o do Marquês de Ponte de Lima, embora de eras diferentes, foram construídos pelos LIMAS, uma família oriunda da Galiza, que se salientou a partir dos meados do século XV.


Outros palácios, que por aí proliferam, são mais tardios.


Em Viana do Castelo, sobressaem o palácio dos Távoras, uma jóia arquitectónica de raro valor, construído no século XVI, a Casa dos Alpuins da mesma época, a casa dos Costa Barros, com fortes indícios do manuelino rural, bem como a Casa da Câmara, já muito alterada na sua estrutura primitiva.


Alguns destes palácios foram construídos na sequência de velhas torres fortificadas, como o de Giela e, possivelmente, o de Lanhelas. O do Marquês de Ponte de Lima não foi adossado a qualquer torre, mas não deixaram de lhe introduzir duas, uma de cada lado.


Há ainda testemunhos doutros palácios e casas solarengas desta época que já desapareceram, deixando atrás de si um simples topónimo, uma lenda, ou uma tradição que as famílias guardam religiosamente e vão contando aos vindouros com imensa ternura.


 


Neste bosquejo monográfico, de si muito simples e, quiçá, incompleto, daremos, primeiro conta dos castelos e fortalezas, seguindo-se depois as torres e os palácios. Quer uns, quer outros só serão especialmente referidos, se ainda contiverem algumas características arquitectónicas que são próprias dos estilos gótico e manuelino. No entanto, daremos também notícia sucinta da existência de algumas torres desaparecidas, por informações colhidas, quer na toponímia, quer em monografias locais, ou em documentos.”

Badanas
 

A badana da capa apresenta duas imagens de uma malga de cerâmica da fábrica de Além da Ponte, em Vilar de Mouros: uma vista do exterior e uma outra com o interior.


A badana da contracapa contém o índice que se passa a reproduzir:


INTRODUÇÃO


CASTELOS E FORTALEZAS
Caminha
Vila Nova de Cerveira
Lapela
Monção
Melgaço
Castro Laboreiro
Lindoso
Ponte de Lima
Viana do Castelo
Castelos Medievais desaparecidos - Fraião, Penha da Rainha, Santa Cruz, Nóbrega, Facha, Neiva, Viana


TORRES
Torre da Silva
Torre de Aguiã
Torre de Quintela
Torre de Refojos
Torre de Curutelo
Torre de Bertiandos
Torre de Geraz
Outras Torres desaparecidas ou com vestígios pouco significativos


SOLARES
Solar dos Pitas
Solar da Torre de Lanhelas
Palácio do MArquês de Ponte de Lima


Viana Gótico-Manuelina
Hospital Velho - Viana do Castelo
Casa da Câmara
Palácio da Carreira
Casa Costa Barros
Casa de João Velho
Casa de Melo Alvim
Casa dos Alpuim

Contra capa
 

 

 
 
     
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