UM HINO AO AMOR
OU O ENIGMA DO SONHO
NA POESIA DE ADELAIDE GRAÇA
“enquanto no olhar houver amor”.
É assim, com este olhar, que Adelaide Graça nos oferece neste seu livro Limites da Razão uma mão cheia de poemas de puro e cristalino lirismo, de uma ternura inesgotável, pleno de imagens e sentido, um discurso doce, terno, onde o Amor e o sofrimento, em perfeita simbiose, lideram todo o percurso poético. Certamente esta viagem sempre apetecível nas veias de uma profunda sensibilidade. E por aqui, pedaços de uma vida inter-activa e plural, a resvalar pelos limites do indiscreto e do acessível, dado assentar nas harpas de uma peculiar maneira de cantar. Um cantar sempre melodioso9 e ritmado, embalado pelo húmus de um silêncio cúmplice e solidário. “Um abraço / veículo de mensagens / sem palavras”.
Por isso e para isso importa, antes de tudo, atestar o seguinte:
A elaboração de um texto poético emite, não raro, o que de mais profundo existe na interioridade do seu autor. Assim se desenrolam, nos elementos expostos em cada verso, estados de alma que a própria alma enigmaticamente sempre revelou. “É neste canto que bebo / a magia da vida”. Porquanto a fuga dos sentimentos, certamente até os mais ocultos, encontra na poesia irremediavelmente um lugar de eleição. Um lugar quase que sagrado, e por isso secreto, que a memória, no tempo, há-de fixar. E devemos convir que o amor – e aqui há um hino ao amor – encontra lugar privilegiado na “magia da vida”.
Nesta linha de conta, pode-se afirmar nada haver de encoberto na poesia de Adelaide Graça que a sua alma o não revele. Está aqui, pois, traçada a marca que define o seu perfil ao nível da escrita. Quando menos se espera, e numa leitura atentas, aí se desvenda o indesvendável. Ou por outra: é na poesia que a poetisa se retrata, inevitavelmente. E fá-lo tão misteriosamente que nem dá por isso. Como assim é, o segredo está em saber transmitir, com arte, esta revelação. “Que a minha boca seja / o eterno sorriso”.
Ora com um sorriso, ora com uma lágrima – irmãos gémeos desta escrita – Adelaide Graça «transportando bagagens de esperança» prima por uma linguagem poética onde são patentes os verbos ESTAR e SENTIR numa salutar convivência com as pessoas e coisas.
Num ou noutro texto poder-se-á pensar que a autora, em momentos de alguma solidão, aquela solidão feita de silêncios de ela, para o reencontro consigo própria tanto necessita, assume uma forte dose de pessimismo. Pelo contrário! É aí mesmo que Adelaide Graça levanta o vértice da sua alegria. É, com certeza, por esse enigma de sonho e magia onde ela – poetisa – agita os «Limites da Razão» e, quiçá, atinge uma dimensão ética no desejo de “entrar nesta solidão / para sorrir”. E, nesta sequência, um pouco mais adiante diz: “A solidão / onde o sol brilha”.
Enfim, um rol inspirador e rico de emoções vividas ao ritmo de acontecimentos excepcionais, às vezes de uma excentricidade exuberante, alguns apaixonados instantes da vida que se vai transfigurando em versos que as autora procura, com a bandeja misteriosa da arte, partilhar connosco.
Álvaro de Oliveira