Arquitectura Religiosa do Alto Minho II - Séc. XVIII ao Séc. XX

de: Lourenço ALVES

   
           
     
Prefácio
  "Os factores determinantes da cultura de um povo ficam normalmente guardados nas obras de civilização que lega à posteridade de variadas formas. Na pintura, na música, no cinema, na literatura, na engenharia, na escultura e na arquitectura imortalizam-se as formas de vida, os valores, os bens e a organização social dos próprios de épocas específicas da sua história. As artes constituem o lugar eloquente onde a cultura se diz e de certa forma se pereniza, como são também o espelho onde a mão de quem recebe deixa a marca do seu respeito ou do seu desleixo.
Chama-se habitualmente "património" pelo facto de instigar à viagem para a terra dos "patres", ou das origens mais próximas ou mais afastadas da actualidade. Aí estão as marcas dos materiais, das técnicas, da instrumentação disponível, das formas, do imaginário, com as suas regras estéticas repletas de propostas e de interditos. O património constitui o lugar onde os pais da actualidade escreveram o seu livro, individual ou colectivo, e o deixaram em aberto à contemplação hermenêutica das gerações sucessivas. Partitura, desenho ou livro, ponte, torre ou arranha-céus, película, fotografia ou CD... são textos em diversos códigos e que entregam à comunidade actual a riqueza das culturas de que fazem a narração.
Lugares da memória cultural, estes documentos da civilização, na sua diversidade, tornam possível um passeio simbólico pelas ruas do tempo que os contextualizam, ouvindo as gravações que de forma rica apresentam aos turistas: gravações de modelos, de normas sociais, de riqueza técnica e de matéria prima, de contactos interculturais, de mobilidade e de imitação, de aprendizagens e de mestres, de escolas e de hegemonias.
Como as bibliotecas, também os monumentos são livros vivos, abertos ao tempo e que o desafiam, entregando a cada geração o dever da preservação e da sabedoria, já que o sábio nasce na contemplação serena daquilo que o precede. Se a monumentalidade de uma cultura inscreve sabedorias acumuladas ao longo de muitas gerações, mesmo de séculos, é também na autêntica sabedoria que aquele se preserva, quando o investigador trata os seus modelos como o artista os seus moldes ou como o escritor os seus códigos.

Muitas vezes se fizeram por entre o verde variado do Alto Minho, percorrendo com paixão montes e vales, assobiando nas margens dos rios e dos regatos, subindo encostas ao cantar da madrugada ou abrindo clareiras entre os arvoredos à procura de um penedo encantado, de uma marca pré-histórica, de uma ermida envolvida em sinais pré-cristãos ou de um campanário que assinala a população dispersa e em êxodo.
Muitos estudiosos legaram às gerações do presente os textos bucólicos de uma natureza apaixonante, os poemas nostálgicos de mouras encantadas ou de sereias surpreendidas a bailar com as ondas, as canções de amor nos caminhos das romarias ou os contos épicos de salvaguarda de uma identidade multissecular. Outros deixaram cantar a cultura nas redondilhas e nos viras, nos cancioneiros e nas cantigas ao desafio. Outros desenharam as paisagens, os moinhos e as ondas, o baile dos regatos, as azenhas, as eiras e os espigueiros. Outros fizeram a viagem pelo Alto Minho com cadernos e lápis, gravando no papel, com o cuidado conjugado do sábio e do artista, os pormenores de tudo quanto a história passada deixou aqui ficar.

O Padre Dr. Lourenço Alves é o exímio cultor desta arte de deixar escrever os sinos da Torre, as almofadas das janelas, o lajedo do adro, os caixotões de um tecto, as sanefas e os azulejos do interior de uma ermida. Sabe, ao longo dos seus passeios, emprestar o lápis à fachada da igreja neoclássica, medir no pormenor a capela de traço barroco ou emprestar algumas sílabas à povoação perdida no monte que se bate com o deserto das suas gentes. Encontra motivo de interesse nos dados das "Inquirições", tira o pó dos alfarrábios de um qualquer arquivo paroquial e empresta a sua voz de mestre à cornija de um templo, à escadaria de um velho campanário ou ao som rouco do bronze rachado.
No I volume da sua obra apresentou o património do Alto Minho na sua versão românica e gótica. Neste II volume - "O Barroco e Neoclássico" - deixa falar os séculos mais próximos, XVIII a XX, inscritos em 91 igrejas e capelas dos seus diferentes concelhos.


ARCOS - 16
CAMINHA - 24
MELGAÇO - 06
MONÇÃO - 13
PAREDES DE COURA - 05
PONTE DA BARCA - 02
PONTE DE LIMA - 09
VALENÇA - 07
VIANA DO CASTELO - 09
TOTAL - 91

A viagem a fazer é repleta de encontros, pois conduz (quase de forma obrigatória) aos três planos de qualquer um destes monumentos: o etimológico, sem deixar na penumbra a origem; o histórico, sem esquecer a trajectória dos seus actores (a demografia); e o artístico, no cuidado esmerado de pormenores de planta, de estilo e de inventário exaustivo de imagens, alfaias e mesmo do enquadramento ecológico que dá vida a qualquer quadro.

O Padre Dr. Lourenço Alves habituou-nos a olhar para as igrejas e capelas desta terra minhota como quem lê com estima as páginas da sua própria história. Daí que nenhum minhoto se dispensa da leitura desta obra, já que muitos a consultarão no intuito de saber dialogar com a cultura que tal património encerra. Esta obra é assim o sinal inequívoco do amor do autor pela terra que o viu nascer e o lugar obrigatório de quantos se prezam de ter na alma o cheiro da amora no silvado ou o perfume das flores anunciando a Primavera.
José de Silva Lima
Janeiro 2000,
Director da ESTCH do Instituto Católico
Viana do Castelo"
Badanas
 
A badana da capa contém um esboço biográfico do autor.
A badana da contracapa é preenchida com as obras da autoria de Lourenço Alves.
Contra capa
 

 

 
 
     
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