Prefácio do Professor José Augusto Seabra
(Anarquia e Memória)
A memória deste século de luzes intermitentes, em que os destinos dos povos e dos homens se entrosaram em múltiplas tragédias colectivas e individuais, tem-se diluído entre as jovens gerações, anestesiadas pelas ilusões do que alguns chamaram o "fim da história", após a queda fragorosa dos sistemas totalitários de sinais opostos, cujas sequelas intermináveis aí estão porém a fazer acordar as consciências do "sono da razãoque engendra monstros", como dizia Goia.
Todas as tentativas de reconstituição dessa memória, que de novo se vêm significativamente multiplicando, em busca de uma razão que lhe dê um sentido outro, são entretanto o sintoma de que um tal redespertar é doloroso, implicando uma lucidez, por vezes tacteante, face a um passado recalcado mas indelével, Ele vai pouco a pouco emergindo, aqui e ali, através de testemunhos fragmentários, em que ao vivido se mescla frequentemente o imaginário. como exorcismo de pesadelos insuportáveis, na esperança de que entre as sombras se abram clareiras que permitam olhar mais luminosamente para o futuro incerto.
Este estranho e curioso texto do LAUREANS, que nos chegou às mãos num encontro fortuito com o autor, andarilho de uma diáspora em que tem atravessado fronteiras de salto em salto, é uma dessas tentativas sintomáticas, onde se detecta do mesmo passo uma personalidade de idiossincracia esquiva, no seu nomadismo constante, e o rasto de uma errância espacial e temporal, de que nos propõe aqui um