1ª parte-TEXTOS
Farol do Bugio I
Bilhete de Identidade.
Chamo-me FAROL DO BUGIO.
Nasci, há relativamente poucos anos, nas colunas deste jornal.
Fui baptizado, com águas meio salgadas, à entrada da barra.
Meus progenitores são o Farol e a Torre do Bugio.
De meu pai, herdei a luz do farol; da minha mãe, ficou-me a desvelada solicitude do bugio.
Meus ilustres antepassadas foram varões de linhagem aristocrática, muito ligados ao empório comercial de Viana quinhentista.
Hoje...são fidalgos, de casa arruinada.
Sou redigido, umas vezes, à beira do rio; outras, numa mesa de café.
(...)
Mas...nunca gostei de fazer vibrar susceptibilidades e sou alérgico a discutir o «sexo do caracol».
Gosto da ironia, falo a meia voz e tento cuidar da linguagem.
Às vezes, o salgado da água azeda-me o espírito e apatece-me partir louça.
Porém, como até à data, tenho sido bem recebido e muito acarinhado, o melhor é conservar a táctica, já que a técnica não é muita.
Farol do Bugio II
À Estátua de Viana
Esbelta e donairosa sonhora:
Os meus respeitos, a minha homenagem e as minhas desculpas.
Os meus respeitos, porque simbolizais a graça e a virtude da mulher vianesa; a minha homenagem, porque sois o brasão e a imagem da terra, que me viu nascer; as minhas desculpas, pelos atropelos, incúrias e malefícios, de que tendes sido objecto.
Curvo-me, respeitosamente, perante a vossa beleza, a fidalguia do vosso porte e a esperança do vosso sorriso.
Beleza, que a natureza doou à terra e o homem subestima; fidalguia, que espalha o s tradicionais costumes da nossa gente;esperança, que o fraco progresso do meio parece comprometer.
-Escrevo...porque gosto.Porque, creio, sou lido.
Escrevo, porque adoro fazer viajar ideias e ornamentar frases bonitas.
Dá-me prazer fazer fazer do adjectivo uma rosae, delicadamente, oferecê-la ao substantivo mais próximo.
Gosto de brincar aos "robertos", com os verbos.
Obrigá-los a falar em várias vozes, por diversificadas pessoas; com ou sem reflexos, neste tempo e daquelo modo.
Sinto prazer em plantar uma ideia, num vaso de complementos circunstanciais, onde o sol da mensagem enraíze conceitos e o texto espalhe folhagens, a debruar figuras de estilo.
Depois, em tempo devido, que faça florir trechos viçosos e frases coloridas.
Quem escreve, fá-lo por gosto e por paixão.
Escrever bem é uma arte; escrever mal é um atentado à Gramática e um desvio da norma linguística.
Escrever é comunicar com o presente e com o futuro.
Com o presente para dialogar e com o futuro para fazer história.
Escrever é conversar connosco e com os outros.
Falar dos outros é fácil, desde que não seja maledicência;falar de nós é mais difícil, porque se pode cair em narcisismo petulante ou em hipocondrias doentias.
Carlindo Vieira.
Fotografia e biografia do autor.
Bibliografia.
Desenho e subtítulo da obra