É um livro bonito, com textos em verso e em prosa que nos falam do sonho, do amor, do tempo, da noite, da vida, da morte, do tudo e do nada, da saudade, da natureza, da paz, da justiça, da liberdade, da amizade e da solidariedade de uma poeta que se diz « filha de um tempo sem idade».
conferir o PREFÁCIO do livro em comentários/Estudos
RETALHO
Ainda… habito o meu sítioonde me visto de retalhos.Saboreio momentospartilhados com alguém,que não conheço.Nem sei se quero conhecer!Receio quebrar o encanto que ofuscaessa existência…dos abraços e beijosnunca dadosde carícias desejadasde sonhos presos no imaginário!Ainda… habito o meu sítioonde me visto de retalhosque cobrem os meus sonhospartilhados com ninguém.
EM VÃO
A noite trouxe a magiada lua cheia.Ouviram-se gemidos de amorque o mar arrastaranum abraço sôfrego. Sedento.Sem promessas.Já faz tanto tempo, que aquele mar pertence ao meu olhar,em busca dum amor naufragado.As minhas mãos estendem-separa lá do horizonte…agarrando o encantoque a lua deixaranum momento de luxúria!
EM JEITO DE BRINCAR
Para além das palavrashá o olhar.Esse olhar… a transbordarem jeito de brincarno meio da multidão.Eles não reparam.Eles não entendem.Eles não sentem.Porque nunca tiveramum olharpara além das palavrasem jeito de brincar.Esse olhar… a transbordarsabedoriaem jeito de comunicar.Não reparam.Não entendem.Não sentem.Porquenunca tiveram um olharpara além das palavrasno meio da multidãomesmo em jeito de brincar!
SABES, AMIGO!
Tenho como fundo uma canção maravilhosa, muito doce, do nosso tempo. Do outro tempo. (…)Sou uma amante do tempo. Do tempo com vida, por onde eu e tu passamos, onde nos encontramos com os outros, que como nós são passageiros do tempo. Sabes, um dos meus sofrimentos é sentir que o tempo não tem tempo para correr devagarinho. Eu sei que, como eu, gostarias que o tempo parasse um pouco. Talvez tivéssemos mais tempo… Talvez parássemos um pouco para pensar… Talvez nos encontrássemos mais… Talvez amássemos mais e melhor… Talvez olhássemos mais os outros… Talvez fizéssemos o que não fazemos… Sabes, amigo, o tempo corre no seu ritmo natural. Sem pressas. Nós é que temos pressa de correr pelo tempo e passamos o tempo a jogar o esconde-esconde entre as desculpas e as hipóteses dos vários "talvez"...(…)
UMA POETISA EM MOVIMENTO
“… Eu não desprezo de modo algum o coração, que quando desprezado não deixa brotar nenhuma obra de arte.”
Cesário Verde
(…)
Ao terminar a leitura deste livro, reconhecemos que ali há uma mulher permanentemente inquieta e de uma grande imaginação psicológica, que tudo questiona, e em que as referências ao sonho, ao amor, ao tempo, à noite, à vida, à morte, ao tudo e ao nada, à saudade, à natureza e aos seus encantos, à paz, à justiça, à liberdade ( de amar, de sofrer, de sonhar e de viver), à amizade e à solidariedade constituem base da sua mensagem rica ,de sensibilidade, de revolta mas tolerante, numa procura optimista de um mundo novo - «sou filha de um tempo sem idade» -, esse espaço/tempo em que não deixa de acreditar, confiança essas manifestada através de expressões cm a força de «Creio na magia do encontro» …«Creio na força do tempo, No poder da mente, Na leveza do pensamento». (…)
Neste livro, há assim uma poesia que, como refere, «É o tudo e o nada», «É o grito das vida», profundamente pensada e sentida, onde a mensagem renasce a cada instante, de um sentir permanente e profundamente enraizado num querer de mudança, e onde esse querer não tem limites.
Numa linha de continuidade com o (seu) livro Limites da Razão, há também aqui, «uma mão cheia de poemas de puro e cristalino lirismo» (Álvaro de Oliveira), onde, num bailado contagiante, as imagens e/ou metáforas (…) se entrelaçam num (re)encontro harmonioso entre presença/ausência e plenitude/carência, num permanente combate contra «a ausência do homem no homem», numa fidelidade à dignificação do homem perfeitamente perceptível nas expressões «Essas crianças, filhas de ninguém», «À espera de…serem filhas de alguém» e outras.
(…) É uma poesia conflituosa e incomodativa que, gerando reflexão e mantendo inquietações, estabelece um diálogo vivo e permanente com o leitor. (…) «É aqui que acontece. É o tal momento. É quando e onde ficamos mais perto de nós e dos outros.»! São momentos de procura de si própria (…) onde o leitor encontra novos espaços para reiventar-se numa peregrinação persistente à procura do infinito.
Num convívio permanente entre os seus eus e o leitor, esta militante do indefinido tem ainda a coragem de, reflectindo sobre o passado e o presente, assumir a sua verdade na procura de planear a construção do futuro (…) É o viver do poeta, porque, como diz, «Ser poeta é procurar, procurar sempre, em todos os cantos e recantos, buscando o invisível, o intocável». (…) E porque já se descobriu que muitas das utopias de ontem mais não são do que realidades de hoje, continua a pensar, a sofrer, a sonhar, a descobrir … e a escrever! E escreve na procura da verdade, porque, como diz, «Sei que necessito do aconchego das frases, onde as palavras procuram o sossego da verdade». (…)
Rómulo de Sousa