A Cunha
O contínuo desfazia-se em, vénias e em sorrisos:
- Pois é, sr. dr. …: Vai fazer exame com o sr. dr.. É o número 198. Se o sr. dr. Pudesse dar uma ajudinha…
- Boa vontade não me falta. Mas o que é que poderei fazer se ele andar muito mal?
- Se ele reprova é uma diferença! O sr. dr. sabe … É casado e já tem cinco filhos.. Só lhe falta filosofia e se passar fica a ganhar mais um conto por mês. E o sr. dr. Sabe … Como a vida está…
- Ó homem, tudo isso está muito certo, mas eu é que também não posso ir assim prometer que o passo!
- Ora! Não é para seguir! Que diferença faz ao sr. dr. Dar um oito ou um dez! E depois sempre é uma ajuda para o pobre homem. Sempre é mais um conto! E cinco filhos…
(…)
- Eu farei o que puder. Mas se andar muito mal não terei outro remédio senão…
(…)
O que acontecia quase sempre é que ia examinar sem se lembrar das recomendações.
(…) No caso presente, porém, ele sabia que não se ia esquecer. Era o 198.
(…) Mas a justiça? Como poderia ele dar assim uma nota por motivos sentimentais?
Entrou na sala de exames inquieto e nervoso. Logo viu o 198, o tal José Martins: era mais velho que os outros e estava sentado à frente. Pareceu-lhe que ele o olhou com esperança. Pobre homem! E uma meio-senhora que estava entre a assistência, sorriu-lhe. Devia ser a mulher. Ingénuas pessoas que se fiavam na protecção de um servente … Mas mal eles sabiam que havia razão para esperar. (…)