A SÁ DE MIRANDA
Pina Martins, Farinha, Félix e eu
Fomos à Casa-Quinta da Tapada:
Das dez à uma a pé, bela jornada
Em que muito se viu e se aprendeu.
Durante o sobe-e-desce, aconteceu
Poesia engrinaldando a caminhada:
Pina Martins a dá, bem recitada.
Até na Fonte em que cada um bebeu.
De vez em quando, o porte da sequóia
Parecia o de guardiães daquela jóia
Que o bom Sá foi, com arte, lapidando.
O Poeta não estava à nossa espera.
Mas na Quinta e Solar onde vivera,
Ele nos abraçou como se estando.
(No dia de S. Tiago de 1998)
in.: A Fonte de Hipocrene cinquentando
A ILHA VERDE
Desce a chuva fria e densa,
Que põe nas ondas tons de mau agoiro.
De velas pandas sobre a estrada imensa
Eu levo no meu barco um sonho de oiro.
Nem vejo a noite que se espessa e gela.
Barco e barqueiro não ouvimos nada.
Mas de ambos rumo certo é a ilha bela,
A Ilha Verde, meta da jornada.
O barco finge não recear ninguém.
A distância é babugem que se apaga.
No entanto, a tempestade sobrevém
E tudo desconjunta e tudo alaga.
Em frente à Ilha Verde, à flor das águas,
Eu só, Robinson outro, preso às tábuas.
(Coimbra, 1951)
in.: Caminhos de Emaús