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<P class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt; TEXT-INDENT: 54pt; TEXT-ALIGN: justify"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana">O autor divide o livro em duas partes:<?xml:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" /><o:p></o:p></SPAN></P> <P class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt 72pt; TEXT-INDENT: -18pt; TEXT-ALIGN: justify"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana">1. <SPAN style="mso-tab-count: 1"></SPAN>A 1ª , <I style="mso-bidi-font-style: normal">No Espólio de Juvenal</I>,<SPAN style="mso-spacerun: yes"> </SPAN>dá o nome à obra e é composta por 30 sonetos onde Amadeu Torres satiriza usos e costumes do seu Portugal contemporâneo. Assim passam por nós, a “Santa esquerda”, a “Des-história estrelada”,l “O virgulismo”, “o riso aquém do siso”, o “surrealisquestão”, “os ridículos”, etc.<o:p></o:p></SPAN></P> <P class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt 72pt; TEXT-INDENT: -18pt; TEXT-ALIGN: justify"><?xml:namespace prefix = st1 ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:smarttags" /><st1:metricconverter w:st="on" ProductID="2. A"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana">2. A</SPAN></st1:metricconverter><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana"> 2ª , <I style="mso-bidi-font-style: normal">E noutros</I>, divide-a em dois momentos. Chamou ao primeiro, com 20 sonetos, <I style="mso-bidi-font-style: normal">Flauta de Pã</I>, e aí evoca Sebastião da Gama, José Augusto Seabra, o maestro José Pedro, Mario Luzi, o Aurora do Lima, Mariana Pineda, o Gerês, Sintra, etc.<o:p></o:p></SPAN></P> <P class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt 72pt; TEXT-INDENT: -18pt; TEXT-ALIGN: justify"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana"><SPAN style="mso-tab-count: 1"> </SPAN>O 2º momento, <I style="mso-bidi-font-style: normal">Avena Rústica</I>, compõe-se de quintilhas, em redondilha maior, dedicadas a personagens típicas de Vila de Punhe: <SPAN style="mso-spacerun: yes"> </SPAN>O Chico Vila Fria, o Tio Manuel Farofa, O Tio António Belicha, a Tia Engrácia Caixeiro, o Tone Teclo.<o:p></o:p></SPAN></P>
No texto digital temos a obra completa:
Texto Digital ou Excertos:
<P class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt"><SPAN style="FONT-SIZE: 14pt; FONT-FAMILY: Verdana">CIRCO MODERNO<?xml:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" /><o:p></o:p></SPAN></P> <P class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt"><SPAN style="FONT-SIZE: 14pt; FONT-FAMILY: Verdana"><o:p> </o:p></SPAN></P> <P class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana">O circo abriu as portas e houve muitas palmas<BR>Entre artistas postados na segunda ordem.<BR>Mas quando se esperava por palavras calmas,<BR>Mais bloquelhos proferem só das que mais mordem.<o:p></o:p></SPAN></P> <P class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana">Em parte, um caso assim lembra-me os ambulantes<BR>Aonde ia em criança palas palhaçadas.<BR>Mas este é respeitável muito mais, e dantes<BR>Contou gente de estofo e cordura afamadas.<o:p></o:p></SPAN></P> <P class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana">Hoje é como se vê: o brio não se nutre.<BR>Representações há tão-só de propaganda,<BR>Como a recomendar a pátria a qualquer Futre<BR>Que apareça de barco cá por esta banda.<o:p></o:p></SPAN></P> <P class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana">Circo anarca que números tais apresenta,<BR>Se não tem mais programa, arranje outra sebenta!<o:p></o:p></SPAN></P> <P class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana"><SPAN style="mso-tab-count: 4"> </SPAN>Em 18 de Setembro de 2004<o:p></o:p></SPAN></P> <P class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana"><o:p> </o:p></SPAN></P> <P class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana"><o:p> </o:p></SPAN></P> <P class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana"><o:p> </o:p></SPAN></P> <P class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt"><SPAN style="FONT-SIZE: 14pt; FONT-FAMILY: Verdana">O RISO AQUÉM DO SISO<o:p></o:p></SPAN></P> <P class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana"><BR>”Le rire” é um ensaio curto de Bergson,<BR></SPAN><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana">Mas bem de fundamento e sistematizado.<BR>Li-o quando filósofo de estudo e acção<BR>E em artigos durante ou o curso acabado.<o:p></o:p></SPAN></P> <P class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana">Fiquei com a convicção de que os risos de acaso,<BR>De desculpa, ironia e complexos de Freud<BR>São vãs caricaturas de psíquico atraso<BR>E oportunas políticas de celulóide.<o:p></o:p></SPAN></P> <P class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana">Há chefes e ministros e gestores tais<BR>Que, se o riso fosse euro no Banco Europeu,<BR>Nosso Banco Central teria capitais<BR>Para ser o Wall Street de quem tudo descreu.<o:p></o:p></SPAN></P> <P class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana">Quando o riso disfarça inação e encarte,<BR>È tempo de mandá-lo inteiro àquela parte…<o:p></o:p></SPAN></P> <P class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana"><SPAN style="mso-spacerun: yes"> </SPAN>Em 22 de Setembro de 2005<o:p></o:p></SPAN></P> <P class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana"><o:p> </o:p></SPAN></P> <P class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt"><SPAN style="FONT-SIZE: 14pt; FONT-FAMILY: Verdana">O CHICO VILA FRIA</SPAN></P> <P class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt"><SPAN style="FONT-SIZE: 14pt; FONT-FAMILY: Verdana"><o:p></P> <P class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana"><BR>O Francisco Vila Fria<BR>Na rua Matias Santos<BR>Tinha a sua habitação, <BR>Mesmo quando Balaão<BR>Nas Neves, no <I style="mso-bidi-font-style: normal">Auto</I>, entre tantos.<o:p></o:p></SPAN></P> <P class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana">Muitas vezes de rei turco<BR>Eu lhe vi o espadeirão<BR>Que não sem garbo brandia,<BR>Porque o Chico Vila Fria<BR>Actuava com convicção.<o:p></o:p></SPAN></P> <P class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana">Este <I style="mso-bidi-font-style: normal">Auto da Floripes<BR></I>Quintas Neves recolhera<BR></SPAN><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana">Do folclore, reordenando<BR>As partes e concertando<BR>O que ele lhe oferecera.<o:p></o:p></SPAN></P> <P class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana">A tradição o reteve<BR>Secular, por via oral.<BR>Feita a intervenção depois,<BR>Logo em cinquenta e dois<BR>Veio a edição integral.<o:p></o:p></SPAN></P> <P class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana">(…)<o:p></o:p></SPAN></P> <P class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana">Mas o Chico Vila Fria,<BR>Além de actor bom nas Festas,<BR>Tinha artes repentistas<BR>E, sem ser por dar nas vistas<BR>Improvisava com estas.</SPAN></P> <P class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana">(…)<o:p></o:p></SPAN></P> <P class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana">Vivia da agricultura<BR>E atendia aos seus senões.<BR>Agora o campo anda à sorte:<BR>O Estado vive em desnorte<BR>enleado de importações.<o:p></o:p></SPAN></P> <P class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana">(…)<o:p></o:p></SPAN></P> <P class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt"></o:p></SPAN> </P>
Prefácio:
<P style="MARGIN-BOTTOM: 12pt; TEXT-ALIGN: justify; tab-stops: 54.0pt"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana; mso-bidi-font-style: italic">(…)<BR><SPAN style="mso-spacerun: yes"> </SPAN>O livro, que hoje tenho a honra de apresentar ao vasto público de língua portuguesa, intitula-se </SPAN><I style="mso-bidi-font-style: normal"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana">No Espólio de Juvenal e Noutros</SPAN></I><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana">; <SPAN style="mso-bidi-font-style: italic">e será publicado pelo Centro de Estudos Regionais (Viana do Castelo, 2006). Nele, inicialmente, impõe-se a exegese do título, que a muitos pode parecer estranho. Por que <U>Juvenal</U>? Por que <U>Espólio</U>? Como poeta latino, Juvenal ficou famoso como autor de sátiras em que recrimina os vícios de sua época. Assim, do ponto de vista da literatura comparada, Castro Gil se insere como herdeiro (<U>espólio</U>) do gênero cultivado pelo poeta Juvenal, construindo uma poesia de cunho essencialmente satírico. Ao acaso, citamos, como exemplo, os seguintes textos transcritos do grupo de sátiras que integram a primeira parte do livro: </SPAN><I style="mso-bidi-font-style: normal">A santa Esquerda</I>; <I style="mso-bidi-font-style: normal">Presidências abertas</I>; <I style="mso-bidi-font-style: normal">Desabafando</I>; <I style="mso-bidi-font-style: normal">Prémios</I>; <I style="mso-bidi-font-style: normal">Os ridículos</I>; e <I style="mso-bidi-font-style: normal">Língua travada</I>. <SPAN style="mso-bidi-font-style: italic">Acima, escrevemos “grupo de sátiras”,</SPAN><B> </B><SPAN style="mso-bidi-font-style: italic">na linha de Juvenal, pois os textos, em forma poética, foram escritos para ridicularizar defeitos ou mesmo vícios, em termos de censura ou crítica social, jocosa e picante, numa espécie de poética da denotação e não da conotação. Ele próprio transcreve, como epígrafes de “<I>No espólio de Juvenal</I>”, versos do poeta latino, assim terminando a segunda estrofe transcrita; “<I>Se falta engenho, a indignação ajude/À crítica nos versas ser virtude</I>”. E satiriza, em todos os poemas, várias ideologias políticas, as presidências abertos, desabafando sempre, condenando premiações sem mérito, ridicularizando os discursos político-demagógicos, destravando a língua:<?xml:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" /><o:p></o:p></SPAN></SPAN></P> <P style="MARGIN-BOTTOM: 12pt; tab-stops: 54.0pt"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana"><SPAN style="mso-tab-count: 1"> </SPAN>“<SPAN style="mso-bidi-font-style: italic">Poetas, travar a língua e não romper cadernos! <BR><SPAN style="mso-spacerun: yes"> </SPAN>Se é lamentável ir por excessos modernos...”<o:p></o:p></SPAN></SPAN></P> <P style="MARGIN-BOTTOM: 12pt; TEXT-ALIGN: justify; tab-stops: 54.0pt"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana; mso-bidi-font-style: italic"><SPAN style="mso-tab-count: 1"> </SPAN>Quanto à técnica do verso, as sátiras, nessa primeira parte do livro <BR></SPAN><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana">(<I style="mso-bidi-font-style: normal">No Espólio de Juvenal</I>), <SPAN style="mso-bidi-font-style: italic">apresentam a forma do soneto inglês e não a do soneto italiano. Com efeito, o soneto inglês compõe-se de três quartetos e de um dístico final. Assim: abab/cdcd/efef/gg. Sirva de exemplo a sátira do primeiro poema intitulado “<I>Não voltes, Pedro</I>”. Veja-se: <o:p></o:p></SPAN></SPAN></P> <P style="MARGIN: 5pt 0cm 12pt 54pt"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana; mso-bidi-font-style: italic">Pedro Homem de Meio, se voltasses cá, <BR>Verias novos rostos a lavar no rio <BR>Cestos de roupa suja enquanto um fungagá <BR>Acompanha as comadres entre geada e frio. <o:p></o:p></SPAN></P> <P style="MARGIN: 5pt 0cm 12pt 54pt"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana; mso-bidi-font-style: italic">Dantes os lavadouros não sentiam mínguas <BR>De ensaboadelas, de batida e esfregação <BR>Que branqueavam peças e adestravam línguas <BR>Na tarefa contrária dessa branqueação.<o:p></o:p></SPAN></P> <P style="MARGIN: 5pt 0cm 12pt 54pt"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana; mso-bidi-font-style: italic">Hoje as máquinas creram aliviar fadigas, <BR>Mas não tiraram vez às outras tarefeiras. <BR>Basta haver eleições </SPAN><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana">— <SPAN style="mso-bidi-font-style: italic">e tu, ó Zé, que o digas </SPAN>— <BR><SPAN style="mso-bidi-font-style: italic">Para repetição de práticas ronceiras. <o:p></o:p></SPAN></SPAN></P> <P style="MARGIN: 5pt 0cm 12pt 54pt"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana; mso-bidi-font-style: italic"><BR>Gente que agora lava, nunca a cantarias... <BR>Não voltes, Pedro! Guarda as tuas melodias!<o:p></o:p></SPAN></P> <P style="MARGIN-BOTTOM: 12pt; TEXT-INDENT: 54pt"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana; mso-bidi-font-style: italic">São, como se vê, três quartetos e um dístico final. Esquema de rimas: <BR>abab/cdcd/efef/gg.<o:p></o:p></SPAN></P> <P style="MARGIN-BOTTOM: 12pt; TEXT-INDENT: 54pt"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana; mso-bidi-font-style: italic">Observe-se que a rima, no primeiro quarteto, do primeiro verso com o terceiro, é coliterada, ou seja, de consoante surda com consoante sonora: <I>cá</I> rima com <I><U>fungagá</U></I><U>, </U>consoante /k/-surda- com a consoante /g/-sonora. <o:p></o:p></SPAN></P> <P style="MARGIN-BOTTOM: 12pt; TEXT-INDENT: 54pt; TEXT-ALIGN: justify"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana; mso-bidi-font-style: italic">A segunda parte do livro vai ser ocupada, também, com sonetos de igual estrutura métrica, em relação à primeira parte. Intitula-se “<I>Noutros</I>” ou seja, <U>noutros espólios</U>, já que aqui as sátiras poemáticas se constroem na linhagem herdada de Paul Claudel </SPAN><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana">(Sobe ao campanário de tua aldeia e olha,/a partir daí, o mundo), <SPAN style="mso-bidi-font-style: italic">de Kant </SPAN>(O respeito é um tributo que se paga/ao mérito), <SPAN style="mso-bidi-font-style: italic">de Paul Élouard </SPAN>(O poeta é o que se dá a ver) <SPAN style="mso-bidi-font-style: italic">e de Walter Pater </SPAN>(All art constantly aspire towards / the condition of music), <SPAN style="mso-bidi-font-style: italic">pois tais são as epígrafes de </SPAN><I style="mso-bidi-font-style: normal">A Flauta de Pã</I>, <SPAN style="mso-bidi-font-style: italic">subtítalo da segunda parte. Os versos são dodecassílabos, como na primeira parte, mas não necessariamente alexandrinos, como nos mostra a ligação livre dos hemistíquios. Os poemas são, em geral, de homenagem póstuma e um deles assume outra forma métrica: quartetos apenas, como em ”<I>Reinado Vianês</I>”. Para Castro Gil, em alguns significativos momentos, vê-se que a poesia é pura visão, como neste soneto: <o:p></o:p></SPAN></SPAN></P> <P style="MARGIN-BOTTOM: 12pt; TEXT-ALIGN: justify"><B style="mso-bidi-font-weight: normal"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana; mso-bidi-font-style: italic"><SPAN style="mso-spacerun: yes"> </SPAN></SPAN></B><B style="mso-bidi-font-weight: normal"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana; mso-bidi-font-style: italic">O Cedro Real<o:p></o:p></SPAN></B></P> <P style="MARGIN: 5pt 0cm 12pt 54pt"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana; mso-bidi-font-style: italic">Frente ao meu gabinete cresce um cedro real. <BR>Chamo-lhe assim pelo elegante e nobre porte. <BR>Erecto, enrama em taças de um verde cidral <BR>De gomos geométricos de ímpar recorte. <o:p></o:p></SPAN></P> <P style="MARGIN: 5pt 0cm 12pt 54pt"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana; mso-bidi-font-style: italic">À noite, ao terminar a hora de completas, <BR>O cedro alto e fidalgo esperta-me visões: <BR>Julgo Euclides em cálculos a impor-lhe metas <BR>E a confirmar se não agride as proporções. <o:p></o:p></SPAN></P> <P style="MARGIN: 5pt 0cm 12pt 54pt"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana; mso-bidi-font-style: italic">Os ramos dão-me prazer sumo ao contemplá-los: <BR>Divergem matemáticos em torno ao fuste, <BR>De modo que os de cima ocupem intervalos <BR>Que os de baixo deixaram para outro ajuste.<o:p></o:p></SPAN></P> <P style="MARGIN: 5pt 0cm 12pt 54pt"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana; mso-bidi-font-style: italic">Belíssimo este cedro de ascendências reais... <BR>Mas quem o programou deve ser muito mais!<o:p></o:p></SPAN></P> <P style="MARGIN-BOTTOM: 12pt; TEXT-INDENT: 54pt; TEXT-ALIGN: justify"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana; mso-bidi-font-style: italic">Como se vê, trata-se de uma linguagem poética contida, às vezes enigmática e sempre avessa a qualquer retórica discursiva. Poesia como visão ou contemplação da beleza eterna, como no soneto “<I>A minha <SPAN style="mso-bidi-font-weight: bold">lua</SPAN></I><SPAN style="mso-bidi-font-weight: bold">”.<B><o:p></o:p></B></SPAN></SPAN></P> <P style="MARGIN-BOTTOM: 12pt; TEXT-INDENT: 54pt; TEXT-ALIGN: justify"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana; mso-bidi-font-style: italic">O Brasil está presente em </SPAN><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana">“<I style="mso-bidi-font-style: normal">Revindicta <SPAN style="mso-bidi-font-style: italic">do Planalto</SPAN></I><SPAN style="mso-bidi-font-style: italic">”. No último agrupamento de poemas aparecem “<I>Personagens típicas de Vila de Punhe</I>” relembram-se Tolstoi e Picasso nas epígrafes iniciais:<B><o:p></o:p></B></SPAN></SPAN></P> <P style="MARGIN: 5pt 0cm 12pt 54pt"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana; mso-bidi-font-style: italic">“<I>Se queres ser universal, <BR><SPAN style="mso-spacerun: yes"> </SPAN>escreve sobre tua aldeia</I>.”</SPAN><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana"> <BR><SPAN style="mso-spacerun: yes"> </SPAN><SPAN style="mso-bidi-font-style: italic">Tolstoi </SPAN><o:p></o:p></SPAN></P> <P style="MARGIN: 5pt 0cm 12pt 70.8pt"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana; mso-bidi-font-style: italic">“<I>É preciso muito tempo <BR><SPAN style="mso-spacerun: yes"> </SPAN>para que alguém se torne jovem</I>” <BR><SPAN style="mso-spacerun: yes"> </SPAN><SPAN style="mso-spacerun: yes"> </SPAN>Picasso<o:p></o:p></SPAN></P> <P style="MARGIN-BOTTOM: 12pt; TEXT-INDENT: 54pt; TEXT-ALIGN: justify"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana; mso-bidi-font-style: italic">E surgem, em forma poemática, as personagens rústicas e populares; <BR>”O Chico Vila Fria” ,</SPAN><B><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana"> </SPAN></B><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana; mso-bidi-font-style: italic">“O tio Manuel Farofa” , “O tio António Belicha”, “A tia <BR>Engrácia Caixeira” e “O Tone Teclo”. As estrofes, em todos os poemas, são constituídas de versos de redondilha maior, os mais populares e espontâneos em língua portuguesa. Mestre João Ribeiro costumava dizer que, em nossa língua, até desaforos são ditos em versos de redondilha.<o:p></o:p></SPAN></P> <P style="MARGIN-BOTTOM: 12pt; TEXT-INDENT: 54pt; TEXT-ALIGN: justify"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana; mso-bidi-font-style: italic">No caso, a métrica se ajusta à temática. “Pinta a tua aldeia e serás universal’, como queria Tolstoi. São tipos populares e regionais, cantados no suave baloiço dos versos de sete sílabas métricas.<o:p></o:p></SPAN></P> <P style="MARGIN-BOTTOM: 12pt; TEXT-INDENT: 54pt; TEXT-ALIGN: justify"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana; mso-bidi-font-style: italic">Como exemplo, no texto intitulado “A tia Engrácia”, veja-se o elogio feito em versos de redondilha maior a uma mestra-escola não diplomada, envolvendo oportuna crítica ao ensino de nossos dias:<o:p></o:p></SPAN></P> <P style="MARGIN: 5pt 0cm 12pt 54pt"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana; mso-bidi-font-style: italic">Hoje abundam pedagogos, <BR>E à gente parece até <BR>Que subiu tanto a didáctica <BR>Que ao nosso ensino, na prática, <BR>Sobra o </SPAN><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana">como <SPAN style="mso-bidi-font-style: italic">e falta o </SPAN>quê. <o:p></o:p></SPAN></P> <P style="MARGIN-BOTTOM: 12pt; TEXT-INDENT: 54pt; TEXT-ALIGN: justify"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana; mso-bidi-font-style: italic">A última estrofe, enfim, sintetiza a crítica feita ao ensino contemporâneo: <o:p></o:p></SPAN></P> <P style="MARGIN: 5pt 0cm 12pt 54pt"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana; mso-bidi-font-style: italic">Mas este Estado de estados <BR>Não leva a lugar nenhum. <BR>Há legalismos a mais; <BR>Menos saberes reais <BR>E pouco senso comum! <o:p></o:p></SPAN></P> <P style="MARGIN-BOTTOM: 12pt; TEXT-INDENT: 54pt; TEXT-ALIGN: justify"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana; mso-bidi-font-style: italic">Em suma, Castro Gil é um poeta dono do seu próprio estilo, pois estamos diante de uma poesia individualizado e não de escolas literárias tradicionais ou modernas. Poesia talvez estranha para alguns leitores, pois ele constrói o seu próprio espaço de criação literária, compondo numa linguagem poética própria, contida e densa. Versos por vezes ásperos e satíricos de quem tem contas a ajustar. Por isso mesmo, tornou-se senhor absoluto de sua própria linguagem, não raro cortante. Vem daí a força de seu lirismo anti-derramado, por ser uma construção muitas vezes seca e objetiva. Cada poema seu, no fundo, é uma espécie de lâmina afiada, por ser satírica. E sua poesia tem “sangue eterno”, como diria a nossa Cecília Meireles, tão admirada em Portugal.<o:p></o:p></SPAN></P> <P style="MARGIN: 5pt 0cm 12pt 189pt"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana; mso-bidi-font-style: italic">Leodegário A. de Azevedo Filho <BR>(Professor emérito da UERJ, Titular da UFRJ e <BR>Presidente da Academia Brasileira de Filologia) </SPAN><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt; FONT-FAMILY: Verdana"><o:p></o:p></SPAN></P>
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