O Poeta, tomando como ponto de partida fotografias de crianças denuncia, de forma flagrantemente maniqueísta, a oposição entre a pureza original desta e a sordidez de um mundo maléfico que busca destruí-la (v. páginas 17 e 21).
Surge, no entanto, aqui e além, a luz da esperança plasmada num sorriso infantil (v. página 22) ou na paz que só a criança poderá trazer ao mundo (v. página 52).
É a visão de um mundo cruel que faz nascer uma entusiasta exortação, através da palavra poética, ao espírito de solidariedade humana como tentativa de fuga a um duro cinismo perante a realidade (v. páginas 31 e 33).
Preenche-se, assim, este livro da genuína vontade de instituir um novo mundo onde os valores de paz, justiça e prosperidade sejam vividos com verdade.
17
Ó mundo de dor e horror:A mão que traça o destinoo riso deste meninoDá-lhe o ódio por ensino,Não o amor!
21
A boneca sem braços não abraça:É como uma criança mutilada...Vinda de quê? Do lixo, da desgraça.Para quê? Para nada.
22
Se as crianças sorriem com agradoÉ que nem tudo se perdeu:Há luz ainda em qualquer ladoPara ser sol em todo o céu.
52
A estrada não acaba frente a um muro,Segue sem fim, serena e franca,Se este menino caminhar para o futuroCom o pão na sacola e uma bandeira branca.
31
Aqui tens um brinquedo para brincar!Presta atenção;Quando o souberes perfeitamente usarEstás apto a matarO teu irmão.
33
O menino trocou as suas colecçõesDe tampas de gasosas, de botões,Dos jogos divertidos e inocentes,Por uma colecção de balas!Homem, que és pai: porque te calasE consentes?
É uma grande responsabilidade prefaciar uma obra do meu poeta vivo preferido... Desde criança que me lembro de gostar das suas poesias, mas neste caso trata-se de "poesias de combate", as que eu prefiro. A luta em defesa das crianças é a luta pelo nosso futuro. E, desde que tenho filhos, a palavra "futuro" tem um significado muito diferente para mim. Imagino que tal sucederá com todos os pais, e especialmente com os pais das crianças que são arrancadas às suas famílias e lançadas à guerra, ao trabalho escravo e à prostituição.E todos nós temos culpa, porque exigimos aos nossos governos mais auto-estradas e não que tomem medidas firmes contra a opressão das crianças, em Portugal e no estrangeiro.De resto, as nossas belas pontes são também construídas com o trabalho escravo dos imigrantes clandestinos, assim como os tapetes e outros produtos importados, frequentemente produzidos por crianças escravas.Deus queira que as fotografias e as poesias desta bela obra de António Manuel Couto Viana consigam abrir a inteligência e os corações dos seus leitores!
Dom Duarte de Bragança