Publicado em 1980, este conjunto de 42 textos que o autor intitula como”Impressões”, divide-se em 2 ciclos.
O Ciclo das Horas– variações - e o Ciclo do Amor – variações – onde são apresentados, como os próprios termos indicam alguns registos de Impressões sentidas pelo sujeito poético ao longo do seu percurso de vida. Podemos observar o paralelismo usado entre a razão e a ilusão.
Pode-se perceber que os registos referidos resultam de uma constante atenção e observação da vida vivida ao nível dos sentidos, do que realmente ela é e significa para o sujeito poético.
Neste indeciso momento
Neste indeciso momento do dia
que a luz do sol adolescente atravessa
recuo no tempo
para acreditar no mundo como uma flor.
E fico tão sem tempo
porque o tempo está por inventar…
E fico tão sem pensamento
porque o pensamento está por achar…
que sou interior ao pensamento
ainda por descobrir o exterior
no vácuo do tempo
e sou sonho que me comanda
neste momento indeciso.
Razão primeira
A minha razão primeira é viver
comigo. Isoladamente comigo.
Sem a falsidade de tudo que é vendido
rigorosamente vendido centímetro a centímetro
sem o rótulo esbatido pelo sol
onde a vitalidade não é.
Sem o falso saber de saber
que não sei nada.
Sem doses de excitantes
para me excitar.
Sem tímidos sussurros
a fazerem gritos autoritários.
Sem nada.
Absolutamente sem nada.
Sem a tua mão a acariciar-me
porque é falsa a falsidade da minha verdade.
Sem a esmola mais ou menos intelectual
de quem esconde o que é banal.
Sem o verso premeditado e medido
da métrica rigorosa da poética.
Sem uma lágrima que lave
as impurezas do meu rosto.
Absolutamente sem nada
mas distraidamente com tudo.
impressões não tem a linha que liga a ideia à concretização.impressões não tem tempo nem espaço.
impressões talvez pouco ou nada tenha de poesia-poesia.
mas impressões tem um bocado do meu corpo. tem a minha força e a minha fraqueza. tem a minha presença. aqui. na vida. tem aquilo que para mim é importante.
ser-se.
dizer-se.
e eu digo-me:
impressões.
Viana do castelo 80