NOTA PRELIMINAR
O presente livro não é, na ordem pedagógica, um ensaio, um estudo, uma abordagem reflexiva. Nem tem carácter de investigação. Ultrapassa os parâmetros da análise objectiva, melhor, passa-lhes de lado.
Vai directamente à realidade escolar portuguesa recorrendo à ficção. Ficção que não sendo pura e erradia invenção, alimenta-se de uma instituição - a escola.
É um livro de contos, cada um com origem em acontecimentos concretos, todos eles vividos pelo autor de uma forma directa ou apenas relatada. Fugaz, desenquadrado, cada acontecimento constitui o mote, escrito em redacção quase jornalística. Dali se parte para o conto propriamente dito, a glosa, operacionalizando-se a realidade. O autor deixa, então, as suas capacidades heterónimas ganhar forma, a sua força inventiva espraiar-se, corporizar-se o devaneio.
É por isso um livro diferente, já que os alunos têm nome, os professores um apelido, os funcionários uma identificação. Outros intervenientes, uma alcunha. Não são apenas dados anónimos de uma qualquer lucubração de pedagogo ou metodologista. Nas suas páginas ergue-se uma escola com rosto.
No livro descobre-se uma pedagogia latente. Não foi parida em gabinetes, não sofreu a prova dos nove dos inquéritos e das estatísticas. Pouco terá bebido na efervescência cultural francesa, talvez nada no tecnicismo americano. É, no entanto, uma pedagogia nossa, balisada no bom senso e no bom gosto. Sofre as nossas carências, vibra se necessário, transcende-se. E troca os "vês" pelos "bês", escreve "porvessoura", na aula goza os "profes" de empatia bloqueada. Ou então, preocupa-se com o rendimento dos alunos, dá aulas gratuitas e paga do seu bolso os livros de um estudante pobre.
Este é o país. O nosso. Estes os alunos. E estes ainda os professores. É a partir deles, com eles e para eles que devemos inventar a Nova Pedagogia. Nova e nossa.