Sofia FIGUEIRAS  
 

 

Numa noite atribulada, a 30 de Outubro de 1983, fui parar à incubadora da Maternidade Júlio Dinis, no Porto.


Quinze dias mais tarde, fui com os meus pais para a casa dos meus avós, em Viana do Castelo, onde cresci rodeada de histórias, acordes tradicionais, passos de Vira e heranças culturais que me foram fazendo curiosa.


Pelo caminho, fui bisbilhotando os escritos do meu avô materno e inquirindo a minha avó que, na sua sábia paciência, me ensinou o dialecto dos afectos. E assim fui registando os muitos sinais que fazem a escrita e a necessidade de a alimentar.


O acto de escrever foi-me incutido  pelo gosto pela leitura, pelo contacto com as “produções” da família e por uma vontade imensa de partilhar (comigo mesma) as muitas ideias que me faziam questionar cada sensação ou cada momento.


Fiz a escolaridade obrigatória em Viana, rumei a Braga para fazer Comunicação Social e voltei ao Porto, para (me) descobrir (n)a cidade.


Tive a sorte de me cruzar com as pessoas certas que, indirectamente, foram espicaçando essa vontade maior de passar as palavras para o papel. Houve um Zé Luis Carvalhido da Ponte que, como um “pai adoptivo” me presenteou com pareceres literários, obras publicadas e incentivo. Houve uma Amália Amaral que, para além de me ensinar o percurso pelo mundo dos autores portugueses, me ditou as regras da escrita, o sabor das leituras e o prazer do registo. Depois veio a Filipa Machado. Tão cheia de sonhos e palavras como eu, embarcou comigo na aventura da publicação e, em 2003 surgiu “palavras...”, a primeira publicação de alguns dos meus registos.