Anabela Azevedo DIAS  
 

 


(adaptação da Fotobiografia da autoria de Martia Gigante Abreu)


 


Anabela Azevedo Dias nasceu a 19 de Agosto de 1972 na cidade de Joanesburgo, África do  Sul e foi a primeira filha de um casal de imigrantes portugueses: a  Soledade Azevedo, de Vila Nova de Anha e José Dias, de Ermesinde.


Aí fez os  seus primeiros estudos, sempre com bons resultados:


Falou precocemente e com correcção, estabelecendo facilmente amizades com outras crianças e adultos. À medida que  foi crescendo realçava-se um carácter muito correcto, privilegiando sempre o  bem-estar dos outros, reportando-se naturalmente para segundo plano. Revelava sempre muita determinação e era muito exigente consigo própria e com a s suas  escolhas. Desde pequenina que primava por uma apresentação exímia, desprezando  contudo a opção da roupa de marca em prol de modelos originais criados por  ela  próprio em desenho que depois entregava à modista para serem confeccionados. Viveu intensamente a sua infância e adolescência manifestando junto dos seus pais uma sede interventiva que se veio a concretizar em diversas áreas, das  quais se destacam o: balet, sapateado, folclore, dança moderna, teatro, piano, caraté  (cinto castanho).


Participou também em diversos concursos de misses e passagens de modelos, tendo  ficado em primeiro lugar aos dez anos como misse simpatia.


Dedicou-se ainda à  pintura e uma das suas produções (Alminhas do Purgatório) encontra-se em  espaço público num nicho de parede, em Barroselas. Foi catequista, em Portugal, tendo recebido  gradualmente a respectiva educação religiosa: fez a primeira comunhão,  profissão de fé e o crisma.


Ainda nesta área era notório o interesse em  participar no âmbito das celebrações litúrgicas, essencialmente como leitora,  mesmo quando a baixa visão lhe impunha uma grande ampliação do texto. Mas  apesar de todas estas actividades acrescidas aos compromissos escolares  exigidos pelas escolas portuguesa e inglesa, conseguia manter um ritmo de  vida  sereno e nunca se deixava perturbar pelas pressas ou pelo frenesim das  ocupações. Cada momento tinha o seu sabor, vivido com intensidade mas  simultaneamente com calma e ponderação. Mantinha uma óptima relação social  com  todos e, quando aos quinze anos veio para Portugal com os pais, continuou a  afirmar-se nas suas características de fácil integração.


Matriculou-se na  Escola de Santa Maria Maior no 9º ano. Concluiu o Ensino Secundário na Escola de  Santa Maria Maior e após algumas hesitações acerca do curso a seguir  (primeiro  Direito, depois Português/Inglês via ensino que ainda frequentou um ano)  definiu-se pelo curso de Relações Internacionais. Concluiu o curso em 1996,  um  ano depois do previsto, uma vez que a manifestação da doença no 2º ano lhe  comprometeu a visão e a mobilidade e interrompeu a frequência às aulas  diversas vezes devido aos sucessivos internamentos.


Os sintomas de esclerose múltipla  surgiram  confusos, indefinidos, mas persistentes. Os primeiros diagnósticos apontavam apenas para problemas do foro psicológico ou mesmo psiquiátrico. Assim é que a caminhada das Anabela, num dado período, a levou do médico de família ao psicólogo, deste ao neurologista e ao psiquiatra. Um dia foi o tempo do diagnóstico definitivo: a Anabela estava doente ao nível do Sistema Nervoso Central. Veio então o internamento no Hospital de Stº António. E vieram, a rejeição e a impaciência; depois a aceitação e a esperança; depois a luta e a sublimação.


Apesar da gradual evolução da doença, em que as limitações físicas se foram tornando quase extremas, a Anabela não centrava a sua vida nesse domínio apenas e não acarinhava todo o tipo de tratamento que transmitisse sentimentos de compaixão.


Apreciava a forma natural como o irmão lidava com ela porque dessa forma se sentia uma pessoa sem limitações. Por exemplo, era frequente este perguntar-lhe uma opinião sobre a roupa e a respectiva combinação das  cores; mesmo longe do mundo da cor, dialogando com ele acabava por dar a sua  opinião que era normalmente era tomada em conta.


O percurso académico incluiu pois, acrescidamente, a aprendizagem de Braille bem como as informática  adaptada para deficientes visuais. 


Após a conclusão do curso desempenhou funções de professora de inglês no  Instituto de Inglês em Viana do Castelo enquanto acumulava na sua própria  casa  explicações de inglês no âmbito do desenvolvimento da oralidade.  Manteve durante longos anos um importante papel no apoio ao cidadão portador  de deficiência visual, primeiro como responsável do Centro de Apoio a Cegos,  uma das valências da Paróquia de Nossa Senhora de Fátima  e depois  como Presidente da Delegação da ACAPO em Viana do Castelo.


Em 1998 viajou para Bruxelas, com o intuito de aprofundar o francês e o neerlandês, prevendo posteriormente uma pós graduação para tentar um lugar como intérprete no Parlamento Europeu. Conseguiu um contrato de trabalho no Posto de Turismo de Viana do Castelo, contudo o início das actividades foram à partida comprometidas pela agudização das crises de descontrolo motor que a a impediram de levar a efeito as aulas de mobilidades entretanto programadas. As tentativas para entrar no mundo laboral não desfaleciam, nunca perdia a esperança, era de facto uma pessoa muito positiva.


Mesmo numa fase de total dependência de terceiros, ainda  procurou inscrever-se num curso de Psicologia através da Universidade Aberta. A sua paixão por esta área do saber era visível na sabedoria, sensatez e  discernimento com que sabia ouvir tantas pessoas que a procuravam para  desabafar os seus desassossegos.


Ela própria não ocultava esta paixão  afirmando mesmo que trazia a palavra psicologia gravada na fronte. Havia um  lema que deixava inferir com todos e a propósito de tudo “resistir à  tentativa  de julgar”.  Com um grupo de amigos organizou um Clube de Leitura que se realizava  semanalmente num fruir de horas esquecidas, num embevecimento de narrativas, descrições, poemas, reflexões e depois num cruzar de opiniões e pareceres tão  diversos e contrastantes quanto diversos e contrastantes eram os elementos que  o compunham. Sobressaía a sua predilecção pela poesia que em regra marcava o  início e o final da cada sessão de leitura.